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Adolfo CoelhoContos, Crônicas e Poesias

O Conde Encantado, Conto de Adolfo Coelho

O Conde Encantado

Uma avó tinha uma neta a quem queria muito mal, e um dia disse-lhe que a havia de queimar em vida e mandou-a buscar lenha para aquecer o forno. A menina foi, muito triste, e em vez de apanhar a lenha foi caminhando, caminhando, até que avistou um palácio; aproximou-se dele e bateu; depois apareceu um conde e perguntou-lhe o que ela queria. A menina respondeu que ia ver se a queria para criada e o conde respondeu que sim. Vivia a menina muito feliz no palácio, até que ele disse-lhe um dia que se sentia muito doente e por isso que ia para casa de sua mãe para se tratar; que de vez em quando a viria visitar, mas que era preciso que ela pusesse na janela uma bacia com água para ele se lavar e uma toalha para se limpar; e recomendou muito à menina que não chegasse à janela porque podia passar algum homem da terra dela e ir dizer à avó que a tinha visto.
Punha a menina a toalha todos os dias na janela, e o conde vinha transformado em passarinho; lavava-se na água e entrava em casa, aparecendo à menina já transformado outra vez em homem.
Um dia a menina ficou mais um bocado à janela, e nisto passou um homem da terra dela, viu-a e foi contar à avó da menina que a tinha visto e que ela tinha na janela uma bacia com água e uma toalha.
Então a avó disse ao homem que fosse ele deitar no fundo da bacia uma roda de navalhas bem afiadas, mas que a neta não percebesse. Foi o homem lá pôr as navalhas e, quando o passarinho se foi lavar na água, cortou-se todo nas navalhas e limpou-se à toalha deixando-a toda ensanguentada; depois foi-se embora sem aparecer à menina.
Passaram-se muitos dias sem a menina ter notícia do conde e, como ela visse a roda das navalhas na bacia e o sangue na toalha, andava muito triste por se lembrar que o conde teria morrido. Finalmente, o conde mandou por um criado dizer à menina que estava muito doente e que era preciso que ela o fosse ver, mas que levasse uns fígados de rolas, para com eles o curar.
Partiu a menina sozinha por esses caminhos, pois a casa da mãe do conde ficava muito longe daqueles sítios; quando anoiteceu, deitou-se debaixo de uma árvore, esperando que aparecesse alguma rola para lhe tirar os fígados. Quando amanheceu, já a menina tinha apanhado algumas e depois foi pedir a um pastor que lhe ensinasse o caminho para o palácio da mãe do conde.
Chegada ali, pisou os fígados das rolas em um almofariz e começou a tratar o conde com eles, de forma que em pouco tempo já ele estava bom. Então o conde disse à mãe que queria casar com a menina. Só ela tinha feito com que acabasse o seu encanto, pois nunca tinha conseguido arranjar os fígados de rolas para o curar.
Casaram e tiveram muita fortuna.

Pesquisa e atualização ortográfica: Iba Mendes (2017)

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