D. Fernando, Infante de Portugal, Poema de Fernando Pessoa
D. Fernando, Infante de Portugal
Deu-me Deus o seu gladio, porque eu faça
A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.
Poz-me as mãos sobre os hombros [1] e doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer grandeza são seu nome
Dentro em mim a vibrar.
E eu vou, e a luz do gladio erguido dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois, venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma.
Nota: Na impressão original consta ombros; texto corrigido conforme a errata.
Poema publicado no livro Mensagem composto por 44 poemas, dividido em três partes e publicado em 1934. Foi o único que Fernando Pessoa publicou em vida, se descontarmos os livros de poemas em inglês.