sábado, abril 20, 2024

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Contos, Crônicas e PoesiasFernando Pessoa

Máximas, Texto de Bernardo Soares (Fernando Pessoa)

Máximas

— Ter opiniões definidas e certas, instintos, paixões e caráter fixo e conhecido – tudo isto monta ao horror de tornar a nossa alma um fato, de a materializar e tornar exterior. Viver num doce e fluido estado de desconhecimento das coisas e de si próprio é o único modo de vida que a um sábio convém e aquece.
— Saber interpor-se constantemente entre si próprio e as coisas é o mais alto grau de sabedoria e prudência.
— A nossa personalidade deve ser indevassável, mesmo por nós próprios: daí o nosso dever de sonharmos sempre, e incluirmo-nos nos nossos sonhos, para que nos não seja possível ter opiniões a nosso respeito.
E especialmente devemos evitar a invasão da nossa personalidade pelos outros. Todo o interesse alheio por nós é uma indelicadeza ímpar. O que desloca a vulgar saudação – como está? – de ser uma indesculpável grosseria é o ser ela em geral absolutamente oca e insincera.
— Amar é cansar-se de estar só: é uma covardia portanto, e uma traição a nós próprios (importa soberanamente que não amemos).
— Dar bons conselhos é insultar a faculdade de errar que Deus deu aos outros. E, de mais a mais, os atos alheios devem ter a vantagem de não serem também nossos. Apenas é compreensível que se peça conselhos aos outros para saber bem, ao agir ao contrário, que somos bem nós, bem em desacordo com a Outragem.
— A única vantagem de estudar é gozar o quanto os outros não disseram.
— A arte é um isolamento. Todo o artista deve buscar isolar os outros, levar-lhes às almas o desejo de estarem sós. O triunfo supremo de um artista é quando ao ler suas obras o leitor prefere tê-las e não as ler. Não é porque isto aconteça aos consagrados; é porque é o maior tributo.
— Ser lúcido é estar indisposto consigo próprio. O legítimo estado de espírito com respeito a olhar para dentro de si próprio é o estado de quem olha nervos e indecisões.
— A única atitude intelectual digna de uma criatura superior é a de uma calma e fria compaixão por tudo quanto não é ele próprio. Não que essa atitude tenha o mínimo cunho de justa e verdadeira; mas é tão invejável que é preciso tê-la.

Texto publicado em Livro do Desassossego.

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